segunda-feira, 12 de março de 2012

Por que os relacionamentos terminam?

Ailton Amélio da Silva é doutor em Psicologia, psicólogo, psicoterapeuta e professor da USP, em São Paulo (SP). É autor de vários estudos científicos sobre relacionamentos amorosos e dos livros "O Mapa do Amor", "Para Viver um Grande Amor" e o mais recente "Relacionamento Amoroso: Como Encontrar Sua Metade Ideal e Cuidar Dela".

Um relacionamento amoroso existe enquanto os parceiros correspondem às iniciativas amorosas mútuas. Esse tipo de relacionamento pode terminar em qualquer ponto do seu percurso: desde o seu início, quando um flerte deixa de ser correspondido, até a separação de um casamento.
Neste artigo vamos examinar quatro dos principais fatores que contribuem para o fim de relacionamentos já estabelecidos: esvaziamento do relacionamento, alternativas mais atraentes, brigas e desconfiança.
Esvaziamento do relacionamento
Na maior parte dos relacionamentos duradouros, infelizmente, à medida em que o tempo vai passando vai acontecendo uma diminuição do interesse pelo parceiro. Essa diminuição é manifestada de diversas formas como, por exemplo, menos motivação para conversar, menos atração romântica e menos desejo sexual pelo parceiro. Ou seja, o relacionamento vai se esvaziando daquela importância que já teve anteriormente. Um relacionamento vazio é aquele cujos custos e benefícios produzidos pelos parceiros se tornaram mínimos. Muitas vezes esse esvaziamento é mais acentuado para apenas um dos parceiros.
Três mecanismos principais são responsáveis por esse tipo de esvaziamento: diminuição da novidade, repetição exagerada de padrões de comportamentos e mudanças que afastam os parceiros. Vamos examinar agora esses mecanismos.



Diminuição da novidade
A novidade é mais estimulante do que aquilo que é conhecido. Por exemplo, quando entramos na nossa casa e um tapete que sempre esteve no hall de entrada foi retirado sem que soubéssemos ou um quadro que sempre esteve na parede do corredor desapareceu, isso chama a nossa atenção. No entanto, se tudo está no mesmo lugar, nem pensamos nisso. Mesmo fatos importantes que já são rotineiros não chamam a nossa atenção. Por exemplo, raramente a água que jorra quando abrimos a torneira ou a luz que se acende quando acionamos o interruptor chamam a nossa atenção. No entanto, quando abrimos a torneira ou acionamos o interruptor e não sai água e a luz não se acende, aí sim, toda a nossa atenção é despertada.

No início do relacionamento existe muita novidade. Não conhecemos o parceiro ou pelo menos não o conhecemos como parceiro amoroso. Quando não conhecemos alguém que é importante para nós, ficamos muito atentos às suas reações e tentamos aprender como agir com ele.
O sexo é um caso típico, em que o efeito novidade é muito notado. Uma nova parceira ou mesmo uma nova prática sexual que era desejada, mas que nunca foi praticada devido à inibição, pode provocar muita excitação. Essas novidades também podem tornar-se rotineiras e perderem boa parte de suas excitações iniciais.
Será, então, que o relacionamento amoroso está fadado à perda de interesse? Não creio. Vamos examinar agora como as mudanças naturais que ocorrem conosco podem garantir variabilidade suficiente para que o relacionamento continue estimulante e interessante.
Excesso de rotina esvazia o relacionamento
Um dos principais motivos do esvaziamento dos relacionamentos é a repetição daquelas formas de agir que deram certo e a evitação de novas formas de agir devido ao medo ou à preguiça de tentar algo novo. Isso produz um “engessamento” no relacionamento.
O relacionamento precisa estar vivo para ter qualidade e durar. Um relacionamento vivo é aquele que varia. Para que essa variação aconteça, não é necessário se programar para fazer coisas diferentes. Por exemplo, não é necessário esforçar-se em fazer sexo em mil locais diferentes, aprender quinhentas posições sexuais ou aprender a fazer streap tease. Tudo é muito bom quando é fruto das variações naturais do desejo e não produto do esforço deliberado e descontextualizado.
As variações naturais já garantem um bom grau de variação no relacionamento. Basta expressar um pouco mais aquelas mudanças que ocorrem conosco. Algumas mudanças ocorrem de um momento para outro e outras demoram anos para ocorrer. Por exemplo, as nossas motivações, humores e emoções se alteram bastante no decorrer de um único dia. Aprendemos e modificamos nossas percepções e comportamentos em decorrência dos nossos sucessos e fracassos.
À medida que deixamos de comunicar essas mudanças para o parceiro, devido ao medo de desagradá-lo ou perdê-lo, vamos ficando monótonos, falsos e chatos. Embora a omissão de mudanças possa ser mais segura à curto prazo para não perder o parceiro, ela aumenta as chances de perdê-lo à médio e longo prazo, porque a mesmice mata o relacionamento.
Mudanças que afastam os parceiros
Com o passar dos anos, geralmente alteramos aquilo que valorizamos em um parceiro e, simultaneamente, também alteramos aquilo somos. É possível que essas duas alterações façam com que parceiros que inicialmente atendiam as expectativas mútuas deixem de atendê-las. Por exemplo, aos vinte anos, quando se conheceram, Mariana admirava os cabelos rebeldes e compridos de Bruno e a sua animação para as baladas. Com o passar dos anos, Mariana começou a admirar cada vez mais as pessoas que tinham realização econômica e uma aparência mais clássica. Bruno continuou com o seu estilo rebelde e “baladeiro”. Mariana agora dizia que ele era um “eterno adolescente”. Ele, por sua vez, dizia que ela tinha ficado velha precocemente e tinha virado uma consumista que dava muita importância ao status. Não mais se admiravam.
Alternativas mais atraentes
Sempre há o risco de aparecer algo fora do relacionamento que seja mais atraente ou menos incômodo do que aquilo que existe nele. Esses dois fenômenos foram bem captados palas afirmações que dão título para os dois tópicos abaixo.
• “O ótimo é inimigo do bom”
Essa afirmação faz todo o sentido. No caso do relacionamento amoroso, ela geralmente faz referência à presença de um rival: mesmo quando estamos em um bom relacionamento, ainda assim existe o risco de o parceiro, ou nós mesmos, achar alguém que seja muito mais atraente do que a companhia atual. Segundo um estudo publicado em 1989 pela antropóloga Laura Betzig, a traição era a principal causa da separação, na época que esse estudo foi realizado.
Todo relacionamento amoroso corre o risco de terminar quando uma terceira pessoa desperta fortemente o amor romântico ou o apetite sexual em um dos parceiros. Esse risco é maior quando não existem barreiras internas fortes contra a traição. Mesmo quando não há traição sexual, o amor por uma terceira pessoa provoca o esvaziamento do relacionamento atual: esse envolvimento tira a energia do relacionamento pré-existente.
Muitas vezes a intensidade do envolvimento com essa terceira pessoa pode não ser suficiente para causar a separação. No entanto, esse envolvimento pode produzir outro tipo de perigo: o parceiro que está sendo traído pode tomar conhecimento do que está acontecendo e precipitar a separação.
• “Antes só que mal acompanhado”
Muitas vezes o relacionamento termina porque ficar só é melhor que ficar em um relacionamento ruim. Isso acontece quando os custos proporcionados pelo relacionamento superam os seus benefícios durante muito tempo. Esse balanço desfavorável acontece quando os ganhos diminuem (esvaziamento do relacionamento, a aparência piorou muito, os ganhos sociais e econômicos diminuíram) ou os custos aumentam (brigas, trabalhos, responsabilidades).

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